segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os Antónios

Há ainda quem acredite que os políticos podem resolver problemas. É uma quimera. Os políticos, estes políticos, são apenas bons ou maus actores de guiões ditados pelos grandes interesses que manipulam o mundo. E, por serem eleitos, "legitimam" o sistema. Na realidade, não há diferenças relevantes, no plano da eficácia, entre os dois Antónios que disputaram as primárias no PS. Excepto para o guionista, que precisa de um actor inspirado e capaz de prolongar durante mais algum tempo a ilusão de uma mudança que nunca ocorre. Quando estiver em palco, António Costa, entre um ou outro improviso, há-de declamar as falas do guião. E, mais tarde ou mais cedo, o público começará a escassear na sua sala de espectáculos. Mas então já outro "António" estará a despontar no horizonte. The show must go on...

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Silêncio

Os mestres ensinam que devemos calar a boca se o que temos a dizer não é mais belo que o silêncio. Calo-me, então, por Pedro Passos Coelho. Calo-me por Paulo Portas. Calo-me por Cavaco Silva. Calo-me por Paula Teixeira da Cruz. Calo-me por Maria Luís Albuquerque. Calo-me por Pedro Mota Soares e calo-me pelo sindicalista Carlos Silva. Calo-me por António Costa. Calo-me por António José Seguro. Calo-me por Marinho e Pinto. Calo-me por Maria de Lurdes Rodrigues. Calo-me por Marques Mendes e calo-me por José Sócrates. Calo-me pelo ensino, calo-me pela economia, calo-me pela justiça, calo-me pela cultura, calo-me pela ciência, calo-me pela banca e calo-me pelos banqueiros. E calo-me e calo-me pelos partidos e pela política. "Dá a todas as pessoas os teus ouvidos, mas a poucas a tua voz" (William Shakespeare).

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Acabou o recreio

Agora que os meninos, sujos e iludidos, saem do recreio da crise, os tubarões do PS e do PSD abandonam o conforto das águas profundas e vêm à superfície devorar o que sobrou deles: os ossos. António Seguro chora desconsolado, Passos Coelho reserva as lágrimas para mais tarde. Mas vão ambos direitinhos para a banheira. Se se portarem bem, serão recompensados à altura do seu estóico sacrifício. E havemos de vê-los, limpos e penteadinhos, longamente entretidos com brinquedos de sonho.  

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Olá!

Gosto mais de escrever num caderno de folhas lisas, vendo a minha caligrafia irregular a entortar a frase para baixo. Gosto de riscar as palavras que desistem dos meus textos e de sorver os aromas do papel e da tinta misturados com o fumo dos cigarros e o aroma quente dos cafés. Gosto de escrever à moda antiga, num café à moda antiga. E às vezes é isso que eu faço. Compro um caderno de capas pretas e uma bic normal e depois ponho-me à procura de um café para fumadores. É isso que eu faço às vezes. Há sempre um café para fumadores na lista de um fumador. Mas nesse café, nesse sítio da minha memória, não posso escrever. É o café onde estão os amigos - e os amigos são a pior companhia para um escritor. Porque sabem ainda melhor do que escrever. Então, para evitar o prazer dos amigos e honrar o prazer das palavras, procuro um outro sítio à moda antiga, onde um cigarro não colida com a lei. Alguém sabe de um café sem amigos onde se possa fumar? Eu não. Por isso, escondo-me em casa. Também não se fuma aqui, senão na varanda. Mas também não escrevo no caderno de capas pretas com a bic normal, também não viajo na minha caligrafia irregular, também não risco por cima as palavras que desistem das minhas histórias. Os cheiros não se misturam, a magia não acontece à moda antiga. Ligo o pc, abro o blogue. E é aqui que podem encontrar-me a partir de agora. Se por acaso a campainha soar e for um amigo, digo-lhe que suba. É com certeza o momento certo para irmos fumar um cigarro na varanda.